Outro dia vi um vídeo cujo título era: “O bebê mais dramático do mundo”. Muito engraçado aquele bebê! Na medida em que sua mãe avançava do lugar aonde ela estava, ele caminhava um pouquinho, se aproximava dela, e se jogava no chão aos prantos. Provavelmente, pela conveniência da filmagem, parece que o choro daquele bebê não estava funcionando muito bem, mas, invariavelmente, funciona sim, e o choro pode ser um grande aliado – que o digam os bebês mesmo, pois com o choro eles se manifestam e recebem o socorro, o amparo, o afeto e o alimento tão necessários para que sobrevivam.
Muitos adultos não são afeitos a essa prática e resistem o quanto podem, talvez porque foram criados para “engolir o choro”, ou porque aprenderam erroneamente que há um quê depreciativo no choro.
Mas insisto em que ele pode nos ajudar muito e que pode ser um grande aliado!
Eu choro porque estou sofrendo por algum motivo, e isso é prova inconteste de que há vida em mim, de que não estou inerte, nem inatingível ou inacessível, e o sofrimento manifestado pelo choro faz parte do doloroso e necessário processo do amadurecimento do ser.
Ao chorar sou lembrado que não somente estou vivo, mas que estou ocupando espaço, que há vida transbordante em mim, vida que dói no corpo ou na alma, mas que me amadurece, me aperfeiçoa, e me leva a procurar alternativas ou soluções para a infligente dor.
Quando choro extravaso minha dor – eu a divulgo! Quem estiver próximo de mim saberá e provavelmente me ajudará. Quem ouve o meu choro poderá usar de compaixão comigo, poderá oferecer o ombro e eu me recostarei e suspirarei baixinho. Mas se choro sozinho, no recôndito, então somente Deus estará vendo; e ali eu posso abrir meu coração e confidenciar-lhe minhas dores.
A bênção do choro é que ele não é para a vida toda – ninguém chora uma vida inteira! Biblicamente falando, o nosso choro pode ser fruto de uma leve e momentânea tribulação, que poderá render glória para Deus e muita experiência para o coração sofrido. Eu estou certo de que muitas alegres manhãs são precedidas de uma noite de choro, de sofrimento e de angústia, e o rei Davi, no Salmo 30, verso 5, pôde divulgar isso de uma forma muito clara e muitíssimo poética, vejam:
“Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã.”
Ele escreveu isso num contexto de profunda dor e sofrimento, e certamente chorava ao fazê-lo! No início do salmo ele diz que Deus tirou a sua alma da cova, mas, no final, ele diz que Deus afastou dele a tristeza, transformou o choro em regozijo, e o cercou de alegria! O fato é que não era fácil a situação do rei Davi e o seu choro enterneceu o coração de Deus, evocou o Seu agir misericordioso, e a compaixão do Senhor operou de uma forma maravilhosamente linda – o choro pode ser um grande aliado!
Chorar, sim, seria a decisão correta principalmente se esse choro viesse acompanhado de um olhar sincero, introspectivo, imparcial e corajoso.
Salvo quando há uma dissimulação, o choro sempre vem acompanhado do quebrantamento, tão necessário para o nosso aprimoramento e condição essencial para o enfrentamento daquilo que está entristecendo nossa alma. Mormente a intensa dor, o produto será o amadurecimento que gerará frutos sadios no futuro.
“Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.”(Salmo 126.5)